terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Loudspeaker


Meus herdeiros; loudspeaker é locução bretã que pode ser traduzida tanto por “alto-falante” – muitas vezes grafado como “auto-falante” por pessoas muito distraídas – como por aqueles que pouco poupam suas cordas vocais. Nas Ilhas Britânicas, esses são enforcados, caso não se comportem, ou conduzidos ao exército para ganhar a vida como sargentos: são os que falam alto.

Ontem este náufrago, após cambiar alguns dos dobrões de prata que estavam nas arcas do capitão do galeão encalhado, dirigiu-se a uma das galerias comerciais da ilha a fim de degustar, na companhia de uma gazeta, uma rubiácea efervescida gentilmente preparada por simpática insular.

Tão logo instalou-se à uma isolada mesa e foi invadido pelo diálogo de duas velhas comadres, encarnadas em dois homens velhos a reclamar de suas infelizes companheiras: “Dou cem conto e deixo ela em Guarapari” fanfarroneava um, imaginando que aquela fora uma quantia razoável para uma fêmea. “Essas mulé enche o saco” concordava o outro.

Mais infeliz que as dignas e abandonadas esposas dos insulares ficou este náufrago, sob o altíssimo volume de suas arengas e de seus erros de concordância. Sem falar da infâmia que é homem feito reclamar de mulher; algo que em certos recantos orientais é punido com refinadas torturas.

Teria o portável ensejado o confidenciar em altos volumes ou o contrário? Aqui já manifestei, caríssimos amigos, meu espanto ao ouvir diálogos travados ao citado meio de comunicação como se ele não fora em hipótese alguma necessário já que o volume sonoro empregado era suficiente para léguas de separação.

Em todo o caso, concordei com alguns historiadores que com muitíssima justiça chamavam a este reino “Terra dos Papagaios”...

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