sexta-feira, 23 de abril de 2010

O inferno de volta


Como queima o sol, caríssimos. Não fora o quitandeiro astuto em refrigerar sua quitanda e seus víveres ficariam com qualidade pior que a que normalmente nos vende.

O inferno é algo estranho, prometido pelos deuses infinitamente benevolentes e oximóricos a quem quer que cumpra seus terríveis mandamentos. Seus fiéis não se dão conta disso ou satisfazem-se em nada questionar.

Dois dias atrás, o dono de uma religião qualquer convocou seus contribuintes para um enorme culto em areias cariocas. Sua promessa de paraíso, com pequena aglomeração, transfigurou-se em multidão de milhões e ficou bem mais longe do real inferno que proporcionou aos seus próximos, entupindo as ruas da infeliz cidade de enormes carruagens para dezenas de inacutos, estacionadas por milhas e milhas a tudo entupir.

Ou será ele o demônio disfarçado?

Que nosso burgomestre não caia na mesma esparrela!

Madrugada


E a ilha dorme. Plácidos momentos em que volta à modorra do passado. Não fora a noite e talvez escutáramos, meus queridos herdeiros, o canto longo das cigarras. Qual! De quando em quando zune tal marimbondo ensandecido uma carruagem de duas rodas, pilotada por um desvairado a cem milhas por hora. Morrem às pencas, mas parece que também reproduzem-se às pencas.


Adoro madrugadas, em que tenho paz e não preciso temer obrigações e telefones. O covil é todo meu. Meu tempo de livros e de sonhos acordados, meu tempo de escrever sem sobressaltos.

Infelizmente desta vez o sono está me levando para o catre. Se pudesse, iria até ao raiar do sol, mas amanhã cedo tenho que ir ter com o quitandeiro pois os víveres começam a rarear na cozinha e minha Senhora anda olhando-me de esguelha...

Passei só para dizer hello...