
Todo dia olho para ele: solitário, em sua imensidão estática.
Foi meu primeiro ponto de referência nesta terra, logo após voltar a mim, exausto de minhas braçadas no mar revolto rumo à salvação nas dolorosamente grossas areias desta ilha. Vi-o na distância azul, assim que consegui por-me de pé. Inicialmente confundi sua solitária imponência com um vulcão e preocupei-me com possíveis erupções - como as que testemunhei nas Caraíbas ou nas ilhas batavas do sudeste asiático- mas logo percebi ser inofensivo e tímido monólito.
Para onde fosse, em minhas primeiras explorações, procurava-o e sua majestosa presença sempre me guiou. Protetor de seus vizinhos bastava o Mestre colocar um chapéu de nuvens que incontinenti os insulares armavam-se de guarda-chuvas, galochas ou até botes (para os moradores do condado de Bento Ferreira). Era nosso amigo.
O tempo passou e foi particularmente cruel para com o velho e abnegado referencial insular. Perdeu sua precisão, vencido pelo intenso povoamento da ilha, que com suas novas torres modificou seus outrora puros ares e virou os ventos. Confuso, passou a lançar falsos alarmes, deixou de ser confiável e teve que aposentar-se que, como sabemos, é algo terrível neste Reino.
Uma pena.
Pobre morro do Mestre Álvaro em cujo chapéu confiava-se cegamente. Hoje esse adorno não passa disso ...
Jaz o morro, lá nos confins de nossa vista, ainda magnífico na sua obsolescência meteorológica, aguardando que os novos ventos, que lhe furtaram o ofício, desgastem-no além das memórias futuras.
Imortalizado pelo mestre Raphael San.