sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

A língua


Estava eu, queridos leitores, a ler com pesar a catástrofe ocorrida em terras bandeirantes. Houve um desabamento em obra de via férreas subterrâneas com infelizes vítimas. Hoje à tarde apreciei o linguajar de uma pessoa a descrever a tragédia: "o túnel começou a colapsar".

E então? Amado leitor? Colapsou o túnel e em consequência desse colapsamento, desabou tudo. Mestres dicionaristas Aurélio Buarque, Caldas Aulete, Hoauiss e mas tantos que se foram deram voltas dentro dos ossuários! Homessa! Será que essa língua lusitana é tão pobre assim que aquele homem seja forçado ao uso de um verbo de tal maneira incomum? Ou é mera imitação do jargão bretão em que to collapse, indeed, é de uso corriqueiro?

Existe uma diferença básica entre um engenheiro ou tecnocrata nacional e um dos países de língua bretã: dificilmente estes sujam suas palavras com expressões estranhas. Preferem sujar as mãos na obra para evitar que esses desabamentos, desmoronamentos, ruínas aconteçam. Uma questão de pudor. A tragédia não é lugar para mostrar-se, para exibir vocabulário elaborado, ainda mais se o porta-voz integra o grupo de culpados. Na tragédia, recolhe-se, apaga-se perante o desespero dos que perderam os seus e o que tinham. Na tragédia, vale o mínimo.

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