quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Delícia

Como o planeta enlouqueceu, queridos leitores, desfrutamos neste instante de temperaturas amenas ao invés dos terrores habituais. Parece verão tórrido lá em casa, na Escócia.

Nessas ocasiões, o insular trata de proteger-se do 'friu' e encolhe-se todo. Uma atitude um pouco arriscada já que basta surgir o sol para voltarmos ao inferno, pois que inferno e verão são as duas estações locais, como todos sabem.

Passei a virada do ano em casa de amigos, a admirar o fiasco dos fogos de artifício na praia. Milhares acotovelavam-se de branco, para dar sorte. Isso não impediu que pelo menos quinze desses esperançosos cidadãos se ferissem até com certa gravidade no momento em que a pirotecnia resolveu criar vida própria. A multidão é bovina, caríssimos herdeiros. Há enorme dificuldade em agir fora do padrão. Pode ser que um ousado insular, que desejasse passar o réveillon de vermelho, seja linchado. A ordem é o branco, seja a pessoa atéia, católica, protestante, judia, muçulmana, animista, zoroastriana ou até candomblista, que ainda existem. Tal culto africano, caros amigos, outrora foi poderosíssimo neste reino. Bastava-lhe o ar livre e poucas oferendas para agradar aos seus deuses. No último dia do ano, a praia era sua e enchia-se de milhares de velas e presentes para os santos de sua predileção. Pois isso acabou. Num indeterminado momento os bispos das mais variadas igrejas protestantes repararam na fortuna que ganhariam se reunissem todas essas pessoas sob seus tetos e perto de suas sacolas de coleta de óbolos. Pois meteram-se a descarregar o que fosse dos ex-umbandistas e isso incluía - principalmente - o que estivesse em seus bolsos. Com isso compram jatos, erguem casa de campo em terras estrangeiras e gozam de luxo oriental, com as graças do Senhor Jesus Cristo e para Sua absoluta glória. Já os criadores de galinhas pretas e bodes perderam seu mercado cativo. Talvez devessem deixá-las às escadarias de mármore dos luxuosos templos desses piedosos milionários.

A coisa ficou tão feia, caríssimos, que não consegui imagem para "despacho" na internet. Só consegui encontar o que julgo ser a consequência de uma dessas sessões de descarrego, após arrancarem-lhe as roupas e abandonarem à sua sorte uma pobre infeliz, já que tinha os bolsos vazios.

Um comentário:

Dani Morreale Diniz disse...

E quando eu falo que ele é Mestre ele é Mestre meeeeesmo. Com ele aprendi a definição dos dois verbos de três letras: ser e ter!
Agora, mais que tudo, vejo.

Ah, só para constatar quero dizer que nem tão cética nem tão mística saltei as sete ondas, não passei de branco (dizem que verde dá sorte!), joguei uma flor comprida à tal de Iemanjá. Fui atropelada por mil Seres dentre 1.000.000.000. Segui o ritual pra falar que sou brasileira. Não se decepcione, a gente se reinventa o tempo todo Mestre.

Beijos e feliz ano TODO.