sábado, 16 de dezembro de 2006

Tradições


Como todo súdito da coroa britânica - a contragosto pois nós, escoceses ainda não concordamos inteiramente com essa anexação - este náufrago é pessoa apega a tradições. Uma coisa que me encantou nesta ilha foi que algumas delas eram respeitadas; pelo menos à época do naufrágio. Infelizmente, com o passar do tempo, algumas desapareceram por má vontade local ou simplesmente por mudança do mundo ou dos hábitos:


A Enxova. Essa é uma que está em processo final de desaparecimento por absoluta falta de vontade dos insulares, ou talvez por medo da polícia. Era algo encantador, que procuro preservar todo dia primeiro de abril, quando lamentavelmente as pessoas não atendem aos meus telefonemas ou não os levam a sério por mais aflito ou desesperado que eu pareça. Não se manda mais despejar caminhão de brita às seis da manhã na porta da garagem do amigo. Não se rouba mais carro alegórico. Não se faz mais pedido falso de caixões a serem entregues na casa de amigo. Não se publicam mais anúncios em nome de amigos agradecendo a médicos proctologistas por bem-sucedidas operações. Não se mede mais a pressão no pescoço de incautos. Não se fazem mais passar por técnicos da telefônica, mandando puxar o fio da parede até arrancá-lo fora. Uma pena pois fazia a cidade muitíssimo divertida.


O apelido. Outra que está menos presente. Esta ilha rivalizava com Nichtheroy na elaboração de grandes e inesquecíveis apelidos: Farol Baixo, Areia Mijada, Zé Cocó, Bafo de Onça, Sovaco de Ouro, Zé Tiroteio, Filtros Europa etc etc etc. Nem morto revelo os alcunhados.


Mestre Álvaro. Quando aqui arribei, ao levantar-me da areia e perscrutar os horizontes logo reparei aquele morro alto que parecia preocupantemente ser um vulcão. Não passava de um inofensivo barômetro natural e infalível do insular, "botava o chapéu" de nuvens quando ia chover. Era tiro e queda. Agora anda esclerosado e usa o chapéu quando não deve.


Depois cá voltarei para acrescentar mais coisas.

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