segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Quase verão




Neste exato instante, meus queridos herdeiros de pensamentos e lembranças, meus parentes lá na distante Escócia tiritam de frio. Um clima cruel, que não admite deslizes: quem não trabalha o ano inteiro, não compra lenha ou carvão para os meses de inverno e sem aquecimento o sono por vezes é para sempre.

Cá neste abençoado canto tropical isso não existe, apesar de no fraquíssimo inverno daqui volta e meia toparmos com autóctones encasacados além do razoável. Todos perfumados a naftalina...

Pois é, vivemos aqui sob clima ameno, mas os insulares guardam no fundo de seus cérebros as lembranças dos inclementes invernos europeus - da Europa setentrional - e promovem inquietante conservação de calor. Explico-me:

Quando naveguei pelas águas tépidas do Mediterrâneo, do Golfo Pérsico, do Mar Vermelho, as habitações das vilas e cidades costeiras eram, sem exceção brancas como a neve. Isso fazia com que o sol refletisse sobre as brancas empenas salvaguardando uma temperatura menos tórrida no interior das casas. Nesse lugares de calor inclemente, uma benção já que os nativos desidratar-se-íam com rapidez; e em terra de pouca água tal perspectiva é inquietante.


Nesta ilha, contudo, proliferam prédios e casas pintados de marrom, cinza escuro, roxo e até mesmo preto. Raríssimas são as construções brancas. Antigamente julgava ser essa uma imposição do burgomestre mas depois passei a suspeitar haver algum arranjo para se que vendam mais aparelhos de climatização já que fachadas escuras expostas ao sol da tarde revelam-se excelentes conservadoras de calor, o qual irradiando-se para os aposentos internos transforma-os em saunas melhores que as que visitei em terra viquingue. Dessa maneira o clima ameno é artificialmente transformado em sufocante.

Espantoso, caríssimos, espantoso...

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