segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Companheiros de batalha


Aventurei-me, após sobreviver ao Centro Comercial e seu peculiar horário, em que lojas abrem a seu bel-prazer, em viajar a município fronteiro e aproveitei a jornada para anotar hábitos dos que cá trafegam.

Os insulares, de há muito habituaram-se ao pandemônio causado pela conjunção de excesso de veículos e excesso de semáforos e escassez de vias da ilha. Atualmente, qualquer percurso deve ser elaborado com muita antecedência ou o pobre cocheiro passará por momentos frustrantes e infelizes.

Já reparei, caros herdeiros, que os chamados automóveis desta ilha são todos sinalizados e têm na tal sinalização a atribuição de seu domicílio. Os de cá, são os de Vitória, que - bem ou mal - conseguem alguma desenvoltura a menos que sejam novatos quando então confinam-se na faixa de baixa velocidade - a da esquerda. Outros vêm do continente ou algures. São eles:

Em grande quantidade e demonstrando completa confusão, os de Vila Velha, exótico lugar do outro lado da baía deste belo canto do mundo. Lá deve imperar o código bretão pois sem exceção alguma trafegam lentissimamente pelo lado esquerdo das avenidas. A menos que sejam todos novatos, já que demonstram infinita dificuldade em estacionar satisfatoriamente e refugiam-se em áreas de sombra da avenida por vezes a cem metros de um semáforo vermelho, sem que haja qualquer veículo à sua frente.
De certa feita, em remota excursão àquele sítio, quase que colidi com um desses autóctones que havia imobilizado seu veículo à distância exata de um quarteirão do semáforo vermelho lá à frente.

Em menor quantidade e demonstrando amor por veículos de colecionador, verdadeiras antiguidades, mas cuidadosamente decoradas a fim de parecerem mais recentes, estão os da Serra. São cocheiros que muito prezam ostentar semblante de poucos amigos, como a avisar que estejam de posse de armas de fogo, prontas a serem postas em ação. Deslocam-se a velocidades incríveis. Nos fins de semana, põem os veículos a descansar perto das praias, com portas abertas e gramofones a bordo, tocando músicas rituais em volume altíssimo. Algo sumamente espantoso e não há guarda que os prenda ou multe pelo desacato ao sossego público.

Em menor quantidade ainda, os do local curiosamente denominado Cariacica. Geralmente veículos mais antigos ainda, como Volkswagens, o que me leva a crer existir grandes revendedores da marca naquele local. Deve ser terra montanhosa, já que seus cocheiros apreciam o ziguezaguear.

Por último, os de Viana. Em tão pouco número que ainda não consegui discernir qualquer característica.
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Trafegar nesta ilha é de tal modo insólito que voltarei por diversas vezes ao tema.

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