domingo, 3 de dezembro de 2006

Nova semana, a primeira de dezembro


Na minha amada Escócia, natal era uma época bonita, de recolhimento familiar, perspectiva de uma boa ceia e, no meu caso, boa bebida. Faz frio lá, frio úmido. Reunimo-nos à volta do fogo e deixamos correr a noite. Lá fora o silêncio da neve que absorve qualquer ruído da noite.

Nesta ilha, meus caros herdeiros, natal é motivo de barulho feroz e incessante onde quer que se vá. Multidões tremendas vagando por corredores e mais corredores dos centros comerciais, em baixíssima velocidade e em grupo. A passagem de um aflito náufrago em demanda de uma compra banal é feita à custa de gradesíssimo sacrifício e o ziguezaguear constante aumenta desmesuradamente qualquer percurso. Naveguei, caros leitores, pelos sete mares e mais alguns oceanos e nunca tufão ou furacão exauriu-me mais que essa febre aqui encontrada.

O barulho, leitores, o barulho! Comparável ao de terremotos, uma coisa surda, tremenda. Não fora suficiente e parece que os odiosos arquitetos que desenharam esses infernos em Terra esforçaram-se em usar e abusar de superfícies refletivas de ruído, que assim amplifica-se, reverbera e espalha-se sem dó nem piedade.

Até nas ruas a coisa é esmagadora. Acontece de encaminharem para engenhos pendurados aos postes medonhas melodias incessantemente repetidas, interpretadas por harpas. Houve ocasiões em que sonhava em colocar o demônio intérprete dessas músicas sobre o seu maldito instrumento e assá-lo ao fogo ou fatiá-lo tal qual ovo cozido.

O pior não é isso, leitor. Nesse clima paradisíaco em, que ninguém morre de frio, insulares insistem numa nostalgia inacreditável de flocos de neve e provavelmente esgotam os estoques de algodão dos hospitais - tão necessitados dele para seus pacientes - e pespegam-no de séca em meca, num furor doentio. Pobres infelizes trajados de lã vermelha, barbas brancas e gorros quentíssimos são obrigados a refestelarem-se em tronos toscamente elaborados e completamente infelizes e suarentos forçados a acolher levas e mais levas de irriquietas crianças nativas. Acredito que sejam aqueles normalmente seriam condenados às galés ou ao desterro mas que receberam excepcionalmente dos juízes pena mais pesada por crime por demais hediondo.

Amanhã de manhã deverei ir resgatar um pedido em mercador ilhado em um centro comercial. Já separei para a expedição um bom arco, flechas assim como dois mosquetões carregados. Também está lá a minha espada, afiada. Mantimentos! Claro. Peixe salgado e seco e frutas; e água. Desejem-me sorte!

É apenas a primeira semana de dezembro!

Nenhum comentário: