sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Lugares-comuns

Vinte e tantos anos são tempo suficiente, caríssimos, para notar um padrão nas gazetas e folhas de aviso insulares. Como é dificílimo que ocorram terremotos, furacões, maremotos ou guerras a cada dia - algo com que imenso folgariam e mais ainda seus patrões - há de se garimpar notícia onde houver, nem que seja repetição de anos passados. Nem os escândalos da corte, de tão repetitivos e impunes, geram atenção.

Uma das mais interessantes diz respeito à escasíssima indumentária que mal veste as moçoilas ávidas por sol e areia. Já alcançaram o mínimo. Menor do que isso só sem a utilização de panos e costuras. Pois vejam só, ilustres passageiros, que todo ano soltam a notícia que "este ano, os biquínis vão ser menores, mais comportados". Acredito vivamente que os periodistas escrevam essas tolices às gargalhadas já que têm certeza que serão desmentidos num piscar de olhos: deve ser um primeiro de abril extemporâneo, avivado pelo calor do verão. As tais moçoilas, comportando-se então abominavelmente, reduzem a areia essas trepidantes notícias em uma única manhã de sol.



Outra coisa extremamente interessante é o comportamento social. Basta ocorrer uma tragédia em bairro pobre que inevitavelmente seremos informados que naquele lugar "o ambiente era de revolta". Pois é. A três por quatro ocorrem revoltas em bairros populares ao passo que em bairros nobres provavelmente encontraremos faniquitos ou vapores. Isso pode ser tanto em conseqüencia de falta d'água, mosquitos, alto-falantes de templos protestantes ou uma simples constipação. Invariavelmente o pobre revolta-se ao passo que o rico suspira de aborrecimento ou tristeza, mas isso não é notícia.

Outra coisa bastante exótica é a história de "praticar preços". Homessa! Desde quando preço é guitarra, que se pratique? Preço cobra-se, impõe-se, determina-se! Seria algo obrigatório o emprego de tamanha estultície? Os periodistas são pessoas simpáticas e sensíveis, fico a imaginar com que horror são forçados a isso.

Um terror esse dia-a-dia das gazetas, excelentíssimos. Água sai de pedras. Afinal de contas, feijão com arroz é o prato diário.

Enfim. Já passaram sob a ponte as reportagens sobre "dicas" de presentes, galerias comerciais lotadas, calor, falta de dinheiro, falta de vergonha dos edis, falta de neve, preços exorbitantes do bacalhau e das nozes e do que mais for em dezembro. Agora só nos resta aguardar a dose anual de videntes e suas previsões de ano-novo, sempre erradíssimas.

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