sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Festas e música



Na longa sucessão de agonias de cada fim de ano, queridíssimos herdeiros, a conjunção de festas e música não pode deixar de ser mencionada.

Em Europa era hábito colocar-se música em segundo, terceiro ou quarto plano; unicamente para alegrar um pouco o ambiente. Se a celebração contemplasse a música, então todos se manteriam em silêncio sepulcral até que o intérprete finalizasse sua arte.

Nesta tropical ilha, caríssimos, há um eterno conflito: em qualquer festa é tocada música em volume altíssimo. Assim a quem deseja dialogar, trocar idéias só restam duas opções: gritar ou desistir. Isso quando a música é de estilo tolerável, já que misteriosamente, quanto pior ou mais vulgar, mais alto ela é tocada, seja na casa do amigo ou na casa do vizinho, ou nas ruas. Meus ouvidos, acostumados à música clássica são violentamente agredidos por estilos que vão da emulação de cães sendo longa e dolorosamente torturados; caso da música de Goyaz ou de estridentes uivos temperados a percussão ensurdecedora; caso da música soteropolitana. Esses são dois expoentes. Infelizmente não estão sós pois existe um círculo inferior neste inferno que é o da boçalidade musical dos subúrbios da antiga corte e dos sambas de latrina bandeirantes.
Já estão apavorados, queridíssimos? Pois saibam que ocasionalmente o espírito selvagem aflora em toda a sua virulenta realidade e apela às terriveis engenhocas portáteis inventadas em Cipango. Com elas, além da péssima música, indivíduos totalmente entorpecidos pela aguardente local, tomam de microfones e se põem a massacrar os ouvidos alheios com escalas musicais totalmente desconhecidas no Ocidente. Algo de tal forma dantesco que muitos acharão que minto, mas é verdade e não foram poucos os que pereceram em atroz agonia após poucos minutos desse horror.




Até na rua, existem infelizes bicicletando caixas negras povoadas por demônios. Talvez fugindo da milícia.

Já na hora de apreciar-se o trabalho de qualquer intérprete, amantíssimos herdeiros, em qualquer lugar acham-se os insulares e demais habitantes destes trópicos no direito de conversar em boa e alta voz, competindo com o artista que mesmo armado de possantes equipamentos amplificadores de seu desempenho, por vezes dá-se por vencido e abandona o palco para ir chorar sua miséria em um canto em companhia de garrafas e vira-latas. Provavelmente vingança, por não terem conseguido tagarelar nas festas!

Surrealismo puro, leitores !

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