quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Camaradagens



Queridíssimos amigos. Desde que pisei nas escaldantes e grossas areias de Camburi, após a longa nadada de cem metros que se seguiu ao encalhe na ilha do Socó, me vi enredado em um meio singular.

Antes de mais nada, tive que ser aceito pelos desconfiadíssimos insulares, cuja atitude é secular pois que estas terras eram fortaleza contra a ingressão de estrangeiros sequiosos pelas riquezas das Minas Gerais. Isso levou algum tempo, mas que superado, fez este estranho ser integrar-se a uma sociedade que tem inúmeras regras não-escritas, protege com zelo os seus e que - como tudo - está em mudança. Pois meus herdeiros, nunca ficava-se só neste lugar; fora-o para fins de comentários como para solidariedade. Dificilmente um membro do círculo interno insular ficava aguardando transporte coletivo ou mecânico sem que, incontinenti, parasse um conhecido a ajudá-lo. Da mesma forma, era-lhe concedido tratamento preferencial em casas de mercado, veículos de aluguel e até aeroportos. Exagero? A pobre companheira deste naufrago chegou a ganhar carona em táxis; algo inédito haja visto a má fama da classe. Dizia-se que um autóctone podia sair de casa sem um tostão no bolso, almoçar, fazer compras e abastecer seu veículo; bastando para isso ir aos lugares certos. É claro que levas e mais levas de estrangeiros fascinados com essas gentilezes corromperam a prática e isso tornou-se raro. Esse aumento da população fez com que os insulares da gema diluissem-se dentre mais e mais outsiders. Estupor dos estupores, é comum agora viajar-se em aeronave sem conhecer viv'alma a bordo! Um escândalo.

Enfim. Não sei se é por ser fim de ano, ou por resquício dessa doce época, que este náufrago foi ontem atendido em oficina mecânica, furando a fila (sem pedir), tratado pelo nome - não obstante não lá pisar há anos - e cobrado uma bagatela por excelente conserto. Ainda por cima recebeu brindes !



Isso não tem preço, caríssimos...









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