quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Comunicações 2


Alguns de meus amigos autóctones acharam estranha essa minha constatação das comunicações locais serem rápidas. Pois afirmo, leitores, que por muitas vezes comentaram algum feito meu antes de ter acontecido! Mais ainda, comentaram comigo ! By Jove!


Uma personalidade tipicamente insular é o perito em comunicações: só ele, ou ela, sabem da veracidade de tal ou tal informação pois sempre têm fonte segura. Uma ilha minúscula é lugar onde todos se conhecem, então a regra de sete pessoas para chegar a qualquer uma em qualquer lugar do mundo aqui cai para três; às vezes duas. Tanto é que frequentemente recebe-se a mesma história de dois ou três desses peritos ajudando a compor uma verdade.


São pessoas muito interessantes. Existem os que conhecem carros e seus donos pelas respectivas placas de matrícula. Outros são especialistas em determinadas tabernas ou bazares. Outros ainda em praias. Uma grande quantidade, na tal Guarapari. Eficientíssimos todos em detalhar coisas inacreditáveis com uma eficiência de guarda-livros da Coroa.


Aqueles especialistas em veículos sabem onde esses costumam trafegar e quais seus passageiros. Qualquer anomalia nesses padrões desperta um sexto sentido de "aí tem treta".

Os que conhecem a fundo as casas de pasto ficam atentos a quem quer que compareça aos recintos e em companhia de quem. São cérebros privilegiados que tecem associações muito longas remontando a parentescos ou laços de afinidade extremamente remotos.


Já os que fiscalizam bazares atentam para aqueles que estão a comprar o quê e automaticamente calculam se a atividade condiz com a renda do observado.
Quanto aos praianos e de Guarapari, são fiéis consignadores da forma física da população e prestam inestimável serviço de saúde pública denunciando aqueles cuja barriga necessite de uma atenção. Como esse é um assunto delicado, tal informação é passada para terceiros que se encarregarão de fazer chegar anonimamente o resultado do exame ao gordo ou, preferencialmente, gorda.

Naturalmente que os que passam os dias a observar os vizinhos não podem ser esquecidos pois são preciosos na localização de pessoas desaparecidas. Uma pequena consulta a três ou quatro peritos em cada vizinhança supera qualquer busca policial. Logo se localizam as pessoas que se deseja encontrar assim como todos os seus hábitos, qualidades e, sobretudo, defeitos.


Todos eles assumem o sagrado compromisso de reportar, no menor espaço de tempo possível, qualquer comportamento anômalo de seu rebanho em benefício da harmonia da coletividade.


Ao final da semana, contudo, tais informantes descansam e se reúnem em diversas igrejas; praticamente uma para cada indivíduo tantas pululam por aqui. Lá agradecem aos céus a graça de viver em um lugar que permita exercer sua vocação em toda a sua plenitude e secretamente exultam por não cair um raio perdido em suas cabeças.

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