sábado, 9 de dezembro de 2006

Falando Sério


Falando sério? Será que alguém fala realmente sério neste reino? Outro dia estava a escutar aquele aparelho muito comum por aqui, que verte sons e músicas (?). A folhas tantas um senhor ao apregoar aos berros não sei que mercadoria de que mercador informou ao abismado ouvinte a "hora certa".


Meus queridos herdeiros, após ouvir a tal expressão, pus-me a caminhar pela praia de Camburi até o entardecer. "Hora certa"! O que seria isso já que hora é hora e se existir a certa, existiria a errada? Será que pessoas vis passariam seus dias a divertir-se informando horas erradas à plebe ignara? Caiu a noite e este náufrago tropeçou em algo pertinente às obras de Santa Ingrácia, digo, às obras de urbanização da praia. Manquei até a calçada, praguejando em diversos idiomas e recolhi-me ao meu pobre covil.


No dia seguinte, o pé incomodando-me sobremaneira, dirigi-me a um desses locais públicos em que curandeiros e barbeiros ocupam-se de doentes e acidentados. Lá informaram-me que em um minutinho um cirurgião trataria de meu pobre dedão, cuja unha estava por um fio. Meus herdeiros, pois foi com o estômago a roncar por providências muitas horas depois que percebi terem-nas passado as tais horas e o minutinho local ser talvez mais longo que o dos monges meditativos da Índia! Finalmente fui medicado e, curioso, indaguei das horas. As pessoas presentes, todas muito gentis informaram-me-na ao mesmo tempo: cada um uma hora diferente. Sei bem que era coisa de minutos, mas ninguém estava no mesmo horário. Será que cada relógio seria regulado de maneira diferente? Alguns mais rápidos, outros mais lentos? E a tal da "hora certa" grunhida pelo locutor do aparelho? Seria em vão?


Na esquina mexi os bolsos, achei alguns cobres e adquiri um relógio de pulso a um oriental que não falava uma palava do que fosse.


Na rua reparei que os relógios públicos hoje desaparecidos, aqueles que indicavam tanto a temperatura quanto a hora, estavam todos bastante discordantes entre si. Nenhum deles indicava o que o meu relógio apresentava. É verdade que eles se localizavam em microclimas pois as temperaturas informadas variavam em vários graus também. Isso talvez afetasse seu delicado mecanismo. Mas nem os relógios enormes, no alto de orgulhosos prédios apresentavam horário idêntico ao meu!


Explicado estaria, então caríssimos herdeiros que, por vezes ao convidar amigos para dividir algum vinho e carne em meu humilde covil, alguns não compareçam nem dão satisfações. Talvez estejam perdidos pelos fusos horários.

Um comentário:

Anônimo disse...

Genial!!!!

Certemente na foi perda de tempo ler essa pequena história, já que comecei vendo as horas em um relógio mais adiantado e quando terminei voltei a ver as horas, mas em um desses relógios que vivem atrasados, terminei minha leitura antes mesmo de ter começado!!!

Abraços.