terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Calor


Derrete-se, caríssimos leitores. Um calor senegalesco. Pior que o do Golfo Pérsico, onde podia-se fritar um ovo sobre a poita. Nas ruas as pessoas zanzam e fluem para os microclimas polares dos bancos, onde enfrentam filas enormes unicamente para ficar lá dentro: chegando ao caixa, voltam ao final delas.


Antigamente era nos refrigerados cinemas que se refugiava o vil mortal, egresso da canícula. Pagava-se uma entrada às duas da tarde e deixava-se ficar, cochilando, até meia-noite. Agora, estafermos enxotam quem quer que esteja na sala de projeção à cada final de sessão. Um desrespeito escandaloso.


Este pobre náufrago escocês vagou pelas avenidas insulares hoje à tarde, deitando meio palmo de língua seca para fora. Lá pelas tantas, um caminhão-pipa da prefeitura passou, jorrando água pela traseira. Aquilo batia no asfalto e imediatamente fervia, tornando a calçada um caminho de vapor.


Finalmente ao covil, fui à leitura das gazetas. Quase me cai o queixo, amicíssimos, ao deparar-me com despacho dos antípodas dando conta de nevasca em Austrália; em pleno verão!


Amaldiçoei minha sorte, queridíssimos. Que mal fizemos aos céus?


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